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A Evolução Histórica da Palavra “Macho” e sua Relação com o Racismo e a Discriminação Racial: Uma Análise Sociolinguística e Diacrônica nos Estados Unidos da América e no México
The Historical Evolution of the Word “Macho” and its Relationship with Racism and Racial Discrimination: A Sociolinguistic and Diachronic Analysis in the United States of America and Mexico
La Evolución Histórica de la Palabra “Macho” y su Relación con el Racismo y la Discriminación Racial: Un Análisis Sociolingüístico y Diacrónico en los Estados Unidos de América y México
Revista Comunicando, vol. 12, núm. 2, e023017, 2023
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação

Comunicação, Género e Sexualidades

Revista Comunicando
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Portugal
ISSN: 2184-0636
ISSN-e: 2182-4037
Periodicidade: Semestral
vol. 12, núm. 2, e023017, 2023

Recepção: 30 Maio 2023

Aprovação: 20 Setembro 2023

Publicado: 17 Outubro 2023

Resumo: O artigo discute a evolução histórica da palavra “macho” no México e nos Estados Unidos da América (EUA), abordando como ela se relaciona com questões de racismo, discriminação racial e o uso do mock Spanish (espanhol paródico). A pesquisa utiliza uma abordagem sociolinguística e diacrônica, analisando como o uso e o significado da palavra “macho” mudaram ao longo do tempo. A pesquisa, de cunho bibliográfico e qualitativa, foi fundamentada em autores como Hill (1995, 2008), Machillot (2013), Paredes (1971), Gutiérrez (1995), entre outros autores que abordam diretamente questões raciais e de discriminação das comunidades latinas nos EUA. Como textos de suporte, o trabalhou baseou-se nas produções de Bizzochi (2021), Janson (2020), Butler (1997), Galván Torres (2021), Anzaldúa (1987) e Mosher (1991). Os resultados mostram que a palavra “macho” historicamente tem sido usada de maneira pejorativa para se referir a homens de ascendência latina, sobretudo mexicanos, reforçando estereótipos negativos e perpetuando a discriminação racial. Ademais, o trabalho discute como o uso do mock Spanish tem contribuído para a construção de uma imagem estereotipada e desrespeitosa da comunidade latina nos EUA. O estudo conclui que, apesar de a palavra “macho” ter sofrido forte alteração em seu conceito inicial, é importante continuar monitorando e analisando o uso da linguagem, pois ela pode ter implicações significativas para a forma como as pessoas são tratadas e percebidas na sociedade.

Palavras-chave: Sociolinguística, Mock Spanish, Racismo, “Macho”.

Abstract: The article discusses the historical evolution of the word "macho" in Mexico and the United States, addressing how it relates to issues of racism, racial discrimination, and the use of mock Spanish (parody Spanish). The research uses a sociolinguistic and diachronic approach, analyzing how the use and meaning of the word "macho" have changed over time. The research, of a bibliographic and qualitative nature, was based on authors such as Hill (1995, 2008), Machillot (2013), Paredes (1971), Gutiérrez (1995), among other authors who directly address racial and discrimination issues of Latin communities in the United States. As supporting texts, the work relied on the productions of Bizzochi (2021), Janson (2020), Butler (1997), Galván Torres (2021), Anzaldúa (1987) and Mosher (1991). The results show that the word “macho” has historically been used in a derogatory way to refer to men of Latin descent, particularly Mexicans, reinforcing negative stereotypes and perpetuating racial discrimination. In addition, the work discusses how the use of mock Spanish has contributed to the construction of a stereotypical and disrespectful image of the Latin community in the United States. The study concludes that despite the strong alteration in the initial concept of the word “macho”, it is important to continue monitoring and analyzing the use of language, as it may have significant implications for how people are treated and perceived in society.

Keywords: Sociolinguistics, Diachrony, Mock Spanish, Racism, “Macho”.

Resumen: El artículo analiza la evolución histórica de la palabra “macho” en México y Estados Unidos, abordando cómo se relaciona con temas de racismo, discriminación racial y el uso de mock Spanish. La investigación utiliza un enfoque sociolingüístico y diacrónico, analizando como ha cambiado el uso y significado de la palabra “macho” a lo largo del tiempo. La investigación bibliográfica y cualitativa se basó en autores como Hill (1995, 2008), Machillot (2013), Paredes (1971), Gutiérrez (1995), entre autores raciales que abordan directamente la problemática racial y la discriminación en comunidades latinas en Estados Unidos. Como textos de apoyo, la obra se basó en las producciones de Bizzochi (2021), Janson (2020), Butler (1997), Galván Torres (2021), Anzaldúa (1987) y Mosher (1991). Los resultados muestran que la palabra “macho” históricamente ha sido utilizada de forma peyorativa para referirse a hombres de ascendencia latina, especialmente mexicanos, reforzando estereotipos negativos y perpetuando la discriminación racial. Además, el artículo analiza cómo el uso del mock Spanish ha contribuido a la construcción de una imagen estereotipada e irrespetuosa de la comunidad latina en los Estados Unidos. El estudio concluye que, aunque la palabra “macho” ha sufrido un fuerte cambio en su concepto inicial, es importante seguir monitoreando y analizando el uso del lenguaje, ya que puede tener importantes implicaciones en la forma en que las personas son tratadas y percibidas en la sociedad.

Palabras clave: Sociolingüística, Mock Spanish, Racismo, “Macho”.

1. Introdução

Este artigo tem como objetivo realizar um estudo diacrônico acerca da evolução da palavra “macho”, analisando o seu significado nas culturas mexicana e estadunidense. A ideia inicial desta pesquisa surgiu durante a análise, em sala de aula, de algumas palavras e expressões de línguas diversas que foram incorporadas pela língua inglesa, dentre elas, determinados vocábulos hispânicos, como “macho”. A atividade em que a pesquisa se baseou apresentava a seguinte definição para “macho”:

22. Macho.

This word describes a person who is very Strong or masculine. It can also be used to describe a person who is arrogant about his manhood. It’s also been used in the name of a professional wrestler and a popular disco song from the 1970s.

Example:

Peter is a real macho guy, but that’s annoying sometimes. He says that “real men don’t cry,” but I think he’s wrong[1].

Percebemos, da leitura supracitada, que a palavra “macho” assume uma valoração dicotômica. Por um lado, a palavra possui uma conotação considerada como “positiva”[2], descrevendo uma pessoa forte e masculina; por outro lado, o vocábulo traz características negativas, como a arrogância e agressividade.

Por conta dessa diversidade de conceitos, realizamos pesquisas iniciais acerca da origem e utilização da palavra “macho” na língua inglesa. Nessa pesquisa, verificamos que o primeiro significado trazido em sala fazia referência ao uso do vocábulo na sociedade latina, em que “macho” assume um significado de força e virilidade; o segundo conceito, negativo, é utilizado na língua inglesa para definir uma pessoa agressiva ou excessivamente arrogante (Machillot, 2013).

Após aprofundarmos a linha de pesquisa com a leitura dos autores adiante listados, que trouxeram importante contribuição para o corpus do trabalho, foi possível verificar que a palavra “macho”, quando empregada pelos anglo-americanos (estadunidenses caucasianos, de origem inglesa-europeia), assume um forte significado pejorativo, utilizada como instrumento de discriminação racial da população latina nos Estados Unidos da América (EUA).

Além disso, foi possível constatar a evolução da palavra “macho” ao longo da história mexico-estadunidense, que passou por diversas alterações em seus significados, tais como: (1) empregada para discriminar e criar uma imagem estereotipada de pessoas latinas e mexicanas nos EUA, definindo esse grupo étnico como pessoas violentas, agressivas, de comportamento animalesco (Paredes, 1971; Gutiérrez, 1995); (2) posteriormente, tornou-se um termo de chacota ou escárnio, empregado para satirizar homens que se comportam de forma exageradamente masculina ou agressiva, valorizando os estereótipos de gênero e a dominância em relação a outros (Hill, 1995; 2008); o conceito de “macho” evoluiu, passando a representar tanto características consideradas positivas, ligadas ao lado latino da palavra, com a figura de um homem forte, corajoso e confiante, como, em outros casos, foi mantida a imagem estereotipada do homem de aparência e comportamentos rudes, reproduzindo os conceitos negativos da palavra (Paredes, 1971).

Dessa forma, a discussão acerca da evolução da palavra “macho” se mostra pertinente, pois podemos analisar o processo de apropriação de uma palavra pela língua inglesa em que houve uma deturpação de seu sentido original, criando um conceito-significado estereotipado de uma minoria dominada, conceito o qual é reproduzido ainda nos dias atuais.

Assim, o artigo visa realizar o estudo diacrônico da evolução semântica do vocábulo específico “macho”, além de analisar, sob a ótica da sociolinguística, os diversos contextos envolvendo o uso da palavra no México e nos EUA ao longo do tempo.

Como metodologia, foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico, estando entre os principais autores que fomentaram a discussão: Américo Paredes (1971), Didier Machillot (2013), David G. Gutiérrez (1995), Gloria E. Anzaldúa (1987), Jane H. Hill (1995, 2008) e Judith Butler (1997).

No tocante à estrutura, o artigo encontra-se dividido em três seções. Na primeira seção, apresentamos conceitos iniciais importantes, como os de borrowing words (palavras emprestadas) e mock Spanish (espanhol paródico), e como a reprodução de tal comportamento alimenta e estimula o racismo nos EUA.

Em seguida, apresentamos um estudo da evolução do termo “macho” nas sociedades mexicana e estadunidense, e como esse termo historicamente foi utilizado para discriminar e segregar os povos de origem étnica mexicana.

Nas considerações finais, o artigo aborda a nova roupagem da palavra “macho”, representada na cultura pop e literária com ambas as suas características: tanto as positivas, oriundas de sua origem latina, como as negativas, presentes na versão deturpada pela língua inglesa.

2. Borrowing Words, Mock Spanish, White Racism[3] e a Construção de Estereótipos

Borrowing words, ou palavras emprestadas na tradução literal, referem-se a empréstimos linguísticos, ou seja, quando uma palavra de uma língua é incorporada ao léxico de outra língua, sem alteração de sua pronúncia ou grafia, ou com a adaptação da escrita e da fonética dessas palavras (Janson, 2020).

Com a incorporação de uma palavra por outra língua, frequentemente há uma alteração dos elementos da cultura que cedeu a palavra. Segundo Janson (2020, p. 119):

quando palavras são criadas numa língua e depois são adotadas por várias outras línguas, como foi o caso com tantas palavras gregas, os elementos da cultura original também são transmitidos no processo e, frequentemente, também são transformados. O termo habitual para designar essas palavras transmitidas é empréstimo. Na verdade, é um termo enganador: as palavras nunca serão devolvidas ao doador e, quando a transmissão se completa, elas se tornam partes integrantes, adaptadas à nova língua e à nova cultura.

Assim, com a incorporação de uma palavra a uma nova língua-cultura, poderá haver a alteração do seu significado (conceito). O conceito variará de acordo com a língua falante, que representa uma “visão de mundo” de cada cultura (Bizzochi, 2021).

Portanto, o signo linguístico, composto pelo significante (palavra) e significado (conceito), poderá assumir um novo significado ao ser apropriado por uma nova língua-cultura (Bizzochi, 2021). E foi justamente essa alteração de conceito que ocorreu com a palavra “macho” e tantas outras palavras de origem hispânica quando incorporadas pela língua inglesa, ainda quando mantido o seu significante original (signo-palavra).

Neste sentido, Jane Hill (2008), pesquisadora dos discursos de racismo nos EUA, em The everyday language of white racism, aborda a força do racismo branco e como foi criada uma cultura em torno dele, alimentada por discursos muitas vezes implícitos e em forma de “piadas” (light jokes), que dividem os anglo-americanos das demais populações.

A autora foca especificamente no uso do mock Spanish como forma de propagação do racismo branco, criando estereótipos negativos para as populações latinas. A pesquisadora define o mock Spanish como “a way that Anglos in the United States can use light talk and joking to reproduce the subordinate identity of Mexican-Americans” (1995, p. 198)[4]. Em geral, o mock Spanish refere-se ao uso de palavras ou frases em espanhol de uma forma que não é autêntica ou precisa. Também pode se referir ao uso de palavras ou frases em espanhol para fins humorísticos ou satíricos, em vez de usá-la para uma comunicação séria ou para mostrar respeito pela língua ou cultura espanhola. Para Hill (1995), o uso do mock Spanish se dá pela deturpação de elementos da língua espanhola. Trata-se de um ponto de vista racista sobre os falantes latinos.

Abordando aspectos linguísticos e raciais nos EUA, Galván Torres (2021) cita como exemplo bastante conhecido do mock Spanish o uso da expressão “Hasta la vista, baby” por Arnold Schwarzenegger em seu papel em Exterminador do Futuro. A expressão, que literalmente significa “até logo”, é empregada pelo personagem com o significado semelhante a “não o verei nunca mais”, logo após exterminar seus inimigos, demonstrando uma deturpação do sentido original da expressão com o objetivo de adicionar um toque de ironia ou humor ácido ao personagem.

A pesquisadora demonstra outro exemplo do uso do mock Spanish, dessa vez com um teor racista explícito. Hill assinala que, em determinada campanha política no estado do Arizona, um organizador relatou que mandou imprimir broches e camisetas para vender em apoio a sua campanha. Esses itens traziam o bordão “if you’re an illegal, head South, Amigo”[5] (Hill, 1995, p. 11). Nitidamente, o uso da palavra “Amigo” significa qualquer outra coisa, menos “friend”. O bordão tenta diferenciar imigrantes latinos ilegais, que deveriam rumar para o sul, dos imigrantes legais, criando uma imagem negativa e estereotipada dos imigrantes latinos. Outros exemplos são citados pela autora, como o emprego das palavras “cerveza”, “mañana”, e das expressões “no problemo”, “caca de pee pee”, “much-o”, “trouble-o”[6] (Hill, 2008).

Por conta da jocosidade presente no uso dessas expressões, muitas pessoas não percebem o teor racista que assume o mock Spanish. Nesses casos, devemos, como Judith Butler adverte, acreditar que a língua possui “a power to injure, and position ourselves as the objects of its injurious trajectory” (1997, p. 1)[7].

Feitas essas considerações, verificamos que o uso do tom jocoso de palavras do espanhol, apropriadas pela língua inglesa, muitas vezes reproduzem um discurso racista implícito, definido por Hill como cultura do racismo branco (white racism culture). No caso da palavra “macho”, a sua apropriação e reprodução se deu em um nítido processo de discriminação racial e de segregação pós-revolução mexicana, como apresentamos a seguir.

3. A Evolução Histórica da Palavra “Macho” no México e nos Estados Unidos da América

A palavra “macho” vem da língua espanhola, significando "masculino" ou "viril". É derivado da palavra latina masculus, que significa "macho" ou "masculino".

Segundo Machillot (2013), o termo “macho” surge durante a Revolução Mexicana, entre os anos de 1910 a 1915. No entanto, o autor adverte que, ainda antes do uso da expressão para se referir a pessoas, já eram utilizados outros termos durante a colonização mexicana para categorizar os povos ali existentes.

De acordo com o autor, os espanhóis colonizadores classificavam os mexicanos em três grupos: indígenas, crioulos (criollos)—descendentes de espanhóis nascidos nas colônias — e mestiços (mestizos), filhos de espanhóis com indígenas. Esses últimos eram os alvos de maior discriminação, sendo também chamados de "pelados". Os espanhóis viam os mexicanos em geral e, particularmente os "mestizos", como pessoas pobres com uma sexualidade animalizada, desenfreada e sem moral (Machillot, 2013).

Segundo Machillot (2013), Samuel Ramos, em El perfil del hombre y la cultura en México, publicado pela primeira vez em 1934, foi o primeiro pesquisador a utilizar a expressão “macho” em um trabalho acadêmico, embora seu trabalho tenha definido o “macho” mexicano como sendo uma pessoa com as características negativas de ser “violento, grosero, irritable, peligroso, impulsivo, fanfarrón, superficial, desconfiado, inestable y falso” (2013, p. 48)[8].

Samuel Ramos (1963, p. 54) refere-se ao mexicano chamando-o de “macho” ou “pelado”. Ao examinar sua obra, fica evidente uma perspectiva explicitamente racista e discriminatória que permeou todo o seu trabalho. Por exemplo, no excerto a seguir:

el pelado: pertenece a uma fauna social de categoria ínfima y representa el desecho humano de la gran ciudad. En la jerarquia económica es menos que un proletario y en la intelectual un primitivo. La vida le ha sido hostil por todos lados, y su actitud ante ella es de un negro resentimiento. Es un ser de naturaleza explosiva cuyo trato es peligroso, porque estalla al roce más leve. Sus explosiones son verbales, y tienen como tema la afirmación de sí mismo en un lenguaje grosero y agresivo. Ha creado un dialecto propio cuyo léxico abunda en palabras de uso corriente a las que da un sentido nuevo. Es un animal que se entrega a pantomimas de ferocidad para asustar a los demás haciéndole creer que es más fuerte y decidido.[9]

Em outro trecho, Ramos comenta sobre a obsessão pela bravura e virilidade atribuída aos homens mexicanos, representada na imagem do falo. Segundo Ramos, essa obsessão falocêntrica é associada à noção de poder. Ramos chama o homem mexicano de um ser sem uma substância interna significativa, que tenta preencher seu vazio com o único valor que lhe resta: o aspecto masculino (1963, pp. 55-56):

es preciso advertir también que la obsesión fálica del “pelado” no es comparable a los cultos fálicos, en cuyo fondo yace la idea de la fecundidad y la vida eterna. El falo sugiere al “pelado” la idea del poder. De aquí ha derivado un concepto muy empobrecido del hombre. Como él es, en efecto, un ser sin contenido sustancial, trata de llenar su vacío con el único valor que está a su alcance: el del macho. Este concepto popular del hombre se ha convertido em un prejuicio funesto para todo mexicano. Cuando éste se compara con el hombre civilizado extranjero y resalta su nulidad, se consuela del siguiente modo: “Un europeo – disse – tiene la ciencia, el arte, la técnica, etc., etc.; aquí no tenemos nada de esto, pero... somos muy hombres”. Hombres en la acepción zoológica de la palabra, es decir, un macho que disfruta de toda la potencia animal. e El mexicano, amante de ser fanfarrón, cree que esa potencia se demuestra con la valentía. ¡Si supiera que esa valentía es una cortina de humo![10]

Em ambas as passagens, Ramos demonstra um retrato profundamente depreciativo da população mexicana, servindo-se de estereótipos raciais e linguagem discriminatória para construir uma imagem degradante, retratando os homens mexicanos como agressivos, sexistas, arrogantes e animalescos. Isso reforça uma visão preconceituosa que marginaliza e perpetua estereótipos sobre a comunidade mexicana.

Machillot (2013) e Paredes (1971) concordam que o trabalho de Samuel Ramos ganhou notoriedade nos Estados Unidos da América, sendo um dos responsáveis pela popularização do termo “macho” e “machismo” na cultura estadunidense, carregado de um forte teor racista.

Após a Revolução Mexicana de 1910, que levou ao fim da ditadura de Porfírio Díaz, surgiu um forte ideal de nacionalismo e patriotismo. Machillot (2013) afirma que a vitória popular mexicana e o nacionalismo que emergiu com a Revolução Mexicana levaram a um novo conceito de “macho”.

Citando o filósofo José Vasconcelos em sua obra “La raza cósmica”, Machillot (2013) afirma que, após a Revolução, foi elevado o reconhecimento da raça dos "mestizos", que se converteram então nos responsáveis pelo derrube do regime ditatorial graças a sua valentia. Os “machos”, então, tornaram-se heróis patriotas, dotados de força e coragem; surgiu daí um novo significado para a palavra que até então era utilizada para separar os "mestizos" dos demais povos mexicanos.

Paredes (1971) ratifica as informações de Machillot e afirma que, após a Revolução, foi criado um novo conceito para a derivação “machismo”. Segundo o autor, citando Vicente Mendoza, passaram a existir dois significados para o vocábulo: um “falso” machismo, com o seu “presumptuous boasts, bravado, and double talk” (1971, p. 19)[11] mas, também, havia o novo machismo, o “autêntico”, segundo o qual (Paredes, 1971, p. 19):

It is simply courage, and it is celebrated in the folksongs of all countries. Admiration for the brave man who dies for the fatherland, for an ideal, or simply because he does not want to live without honor or without fame is found among all peoples. It is the heroic ideal in any time and in any country.[12]

Em seu trabalho, Paredes apresenta diversas canções populares dessa época que reproduzem o ideal do “macho” mexicano pós-Revolução como sendo o homem destemido, que preza pela honra e pela justiça, reforçando a ideia de que, após a independência da República do México, houve a criação de uma nova identidade cultural e nacional, e o uso da palavra que outrora possuía um valor pejorativo e racista, passou a assumir um significado positivo.

Podemos inferir que houve, entre as realidades mexicana e norte-americana, um acontecimento histórico que levou à divisão do significado da palavra “macho”.

Essa divisão do significado-conceito de “macho" é trazida por Glória E. Anzaldúa, em sua obra Borderlands: the new mestiza (1987). Em seu livro, Anzaldúa retrata a experiência vivida pela comunidade Chicana e latina no lado estadunidense da fronteira, por meio de um olhar sobre questões de gênero, identidade, raça e colonialismo.

A seguinte passagem deixa clara a opinião da autora sobre o uso do termo “macho” pelos anglo-americanos (1987, p. 83):

"You're nothing but a woman" means you are defective. Its opposite is to be un macho. The modern meaning of the word "machismo," as well as the concept, is actually an Anglo invention. For men like my father, being "macho" meant being strong enough to protect and support my mother and us, yet being able to show love. Today's macho has doubts about his ability to feed and protect his family. His "machismo" is an adaptation to oppression and poverty and low self-esteem. It is the result of hierarchical male dominance. The Anglo, feeling inadequate and inferior and powerless, displaces or transfers these feelings to the Chicano by shaming him. In the Gringo world, the Chicano suffers from excessive humility and self-effacement, shame of self and self-deprecation. Around Latinos he suffers from a sense of language inadequacy and its accompanying discomfort; with Native Americans he suffers from a racial amnesia which ignores our common blood, and from guilt because the Spanish part of him took their land and oppressed them. He has an excessive compensatory hubris when around Mexicans from the other side. It overlays a deep sense of racial shame[13]. (Anzaldúa, 1987, p. 83)

Verificamos, do excerto supracitado, que o processo de apropriação da palavra “macho” pela língua inglesa foi acompanhado de um teor racista trazido pelos colonizadores e reproduzido por autores como Samuel Ramos. Essa discriminação racial sofrida pelos mexicanos marcou o início do século XX nas regiões sul e sudeste dos Estados Unidos.

Nesse sentido, Gutiérrez (1995), em Walls and Mirrors: Mexican Americans, Mexican Immigrants, and the Politics of Ethnicity, faz uma revisão histórica das políticas de imigração referentes à população mexicana nos Estados Unidos.

O objeto de pesquisa de Gutiérrez envolveu documentos oficiais e relatórios arquivados nos quais era possível analisar o discurso vigente na época. Diversos documentos citados por Gutiérrez demonstram que os mexicanos eram vistos pelas autoridades estadunidenses como selvagens, agressivos, não cooperativos, entre outros termos pejorativos e racistas.

À guisa de exemplo, Gutiérrez cita um relatório de um economista da Universidade de Vanderbilt, chamado Roy L. Garis, apresentado ao Comitê de Imigrações dos Estados Unidos, no qual foi apresentada uma visão extremamente racista da população mexicana da fronteira (1995, pp. 53-54):

Collecting data for his study of Mexican immigration issue, Vanderbilt University economist Roy L. Garis presented a similar view of Mexicans in his report to the House Committee on Immigration. Quoting what he claimed was a letter sent to him by a “concerned American living in a border city”, Garis inserted into the committee’s record a virulent racist representation of Mexicans which characterized them as having “minds [that] run to nothing higher than the animal functions – eat, sleep, and sexual debauchery. In Every huddle of Mexicans one meets the same idleness, hordes of hungry dogs and filthy children with faces plastered with flies, disease, lice, human filth, stench, promiscuous fornication, bastardy, lounging, apathetic peons and lazy squaws, beans and dried chili, liquor, general squalor, and envy and hatred of the Gringo. These people sleep by day and prowl by night like coyotes, stealing anything they can get their hands on, no matter how useless to them it may be. Nothing left outside is safe unless padlocked or chained down.” [14] (Gutiérrez, 1995, p. 53-54)

Essa visão preconceituosa foi alimentada principalmente pelos trabalhos de Samuel Ramos, que representou os "mestizos" ou “machos” como selvagens. No entanto, outro autor foi igualmente responsável pela construção do estereótipo do “macho” mexicano. O antropólogo americano Oscar Lewis, em The Children of Sanchez, publicado pela primeira vez em 1961, buscou desenvolver o conceito de “cultura da pobreza” por meio de um estudo de caso da família Sanchez, uma família pobre de origem mexicana que vivia no bairro de La Villa, em Chicago, Illinois.

A obra retratou a vida dessa família como sendo marcada por problemas familiares, desordem, desrespeito às normas sociais e comportamentos moralmente duvidosos. Essa visão contribuiu para o reforço de estereótipos sobre a comunidade mexicana como sendo desorganizada, moralmente questionável e incapaz de se adaptar à sociedade estadunidense. Oscar Lewis sofreu severas críticas por ter retratado a comunidade mexicana como sendo passiva e incapaz de mudar sua situação.

Entre os excertos mais citados de sua obra, está o seguinte trecho (2011, p. 87): “In a fight, I would never give up or say, ‘Enough,’ even though the other was killing me. I would try to go to my death, smiling. That is what we mean by being ‘macho,’ by being manly”[15]. O trabalho de Lewis foi recebido com certa resistência no lado mexicano da fronteira, no entanto, nos EUA, a obra de Lewis foi até mesmo incluída em programas de literatura de escolas estadunidenses (Galván Torres, 2021).

Após o sucesso de Lewis, várias outras representações do ideal do “macho” ligado à violência ou hipersexualidade foram reproduzidos. Por exemplo, Mosher (1991, p. 199, como citado em Gilmore, 1987, p. 130), define machismo como “a masculine display complex involving culturally sanctioned demonstrations of hypermasculinity both in the sense of erotic and physical aggressiveness”[16]. E completa sua visão sobre a problemática do machismo: “Both the traditional ideology of gender and its hypermasculine variant called “machismo” divide humankind into a gender hierarchy of superior male and inferior female social categories” (Mosher, 1991, p. 199).[17]

Como percebemos, o conceito do que seria o machismo foi popularizado por Oscar Lewis, baseado na visão racista do “macho” mexicano reproduzida por Samuel Ramos em 1934.

Essa visão do machismo e do comportamento desviado da população mexicano-americana permeou a literatura e outras produções acadêmicas posteriores. Contudo, a língua é dinâmica e constantemente evolui, e novos conceitos e representações para a palavra “macho” foram surgindo ao longo das últimas décadas.

4. As Novas Representações do “Macho”

Segundo Paredes (1971), a palavra “macho” assumiu nova significação com a passagem da tradição oral folclórica para a produção de novelas e romances, com a perda de sua característica cômica e de sua sexualidade.

Um exemplo do novo “macho” citado pelo autor pode ser ilustrado com o personagem James Bond, um clássico “macho” da cultura pop. Ele é um agente secreto sofisticado, educado, habilidoso em combate e conhecido por seu charme com as mulheres. Em todos os filmes, alguma mulher é apresentada como troféu a ser conquistado enquanto Bond extermina diversos vilões em seu caminho de demonstração de força e virilidade.

Outrossim, no ano de 1978, o grupo Village People usou a palavra “macho” em sua canção Macho Man, considerada uma música importante na comunidade LGBTQIAP+ por seu papel em ajudar a desconstruir estereótipos em torno do machismo e dos gays.

A letra da música celebra o “ser macho” e abraça os estereótipos de maneira irônica. Ao fazê-lo desafiava as normas e expectativas sociais de como os gays deveriam se comportar ou se expressar. Além disso, a música e as performances extravagantes do grupo ajudaram a desafiar as ideias sociais sobre masculinidade e feminilidade. O uso do grupo de elementos drags em suas apresentações, junto com a adoção de traços tradicionalmente "masculinos" como força física e confiança, ajudou a subverter as expectativas da sociedade e quebrar as barreiras que cercavam a expressão de gênero da década de 1970.

Machado (2018, p. 17), dedica um capítulo a abordar as contribuições do grupo Village People para a desconstrução do ideal de “macho” que estava em voga na década de 1970.

O grupo, cujo nome faz alusão a Greenwich Village, reduto gay de Nova York, aciona, em suas canções e em suas apresentações, diferentes elementos que dizem de questões de gênero e de sexualidade e, mais especificamente, de masculinidades e de homossexualidade.

Em Y.M.C.A, é feito um convite a um jovem homem para que ele vá a um lugar onde possa se sentir bem e onde possa se sentir acolhido. Ao se afirmar que não há razões para que esse sujeito sinta-se infeliz, é dito que lá, ao sair com outros caras, ele seguramente vivenciará bons momentos. Para isso, bastaria deixar o orgulho de lado e perceber que todos precisam de alguém que lhes dê suporte. Em Macho Man, por sua vez, à medida que se exalta um corpo musculoso e viril, de um homem forte e que reúne atributos que lhe confeririam poder, diz-se que todos os homens desejam ser machos e, por conseguinte, ascender a esse lugar hegemônico.

No que se refere as performances do grupo, outrossim, índices fortemente relacionados ao universo masculino (e a uma masculinidade hiperbólica, vale ressaltar), tais como corpos fortes e peludos e fantasias de policial, de cowboy e de bombeiro, por exemplo, compõem um contexto que, justamente pelo exagero, contribui para o questionamento e para a desconstrução de uma masculinidade dominante e pretensamente “natural”.

No que se refere as performances do grupo, outrossim, índices fortemente relacionados ao universo masculino (e a uma masculinidade hiperbólica, vale ressaltar), tais como corpos fortes e peludos e fantasias de policial, de cowboy e de bombeiro, por exemplo, compõem um contexto que, justamente pelo exagero, contribui para o questionamento e para a desconstrução de uma masculinidade dominante e pretensamente “natural”.

No entanto, foi na publicidade em que “macho” sofreu as mudanças mais significativas, com a perda de características tradicionalmente vinculadas à masculinidade, como corpo forte e peludo ou a aparência bruta e descuidada, e passou por uma valorização de novas características mais afeminadas, como a pele cuidada, o corpo depilado e o corte do cabelo.

A seguir, são apresentados recortes de capas de revistas masculinas e femininas Men’s Health e Vogue:


Figura 1
Revista Vogue (2022)
Jornal UOL


Figura 2
Revista Men's Health (2022)
BW Revistas Marketplace

Na primeira imagem, da revista de moda feminina Vogue, é possível verificar a suavização das feições masculinas do modelo. Já nas revistas endereçadas aos homens, como a Men’s Health, é possível vislumbrar características mais masculinas no modelo apresentado, com o físico definido e realçado por tatuagens, barba, postura e olhar de autoconfiança, entre outros.

Assim como ocorreu no campo da publicidade, o conceito do “macho”—ou da masculinidade—também assumiu interpretações variadas na cultura pop, como nas revistas em quadrinhos. Nesse enfoque, de acordo com Nogueira (2010), a indústria dos quadrinhos, ainda predominantemente dominada por autores e leitores do sexo masculino, criou representações hiperbólicas dos personagens masculinos e objetificou as personagens femininas, com o intuito de cativar a imaginação e fantasias de um público majoritariamente masculino.

A deturpação do conceito do “macho” é utilizada como mecanismo social. A forma física do super-herói perpetua representações de gênero hegemônicas—o corpo hipermasculino, com características físicas inatingíveis, apenas reforça uma noção heteronormativa de masculinidade.

As revistas em quadrinhos, assim, retratam papéis de gênero tradicionais, com mulheres hipersexualizadas e homens hipermasculinos, perpetuando a subordinação feminina em um sistema heteronormativo centrado no homem (Nogueira, 2010).

Dessa forma, podemos concluir que o conceito-significado do termo “macho” é utilizado pela indústria de quadrinhos para manter a masculinidade hegemônica e suprimir qualquer resistência, inclusive a criação de personagens femininas independentes e não-hipersexualizadas, que são vistas como uma ameaça à masculinidade conservadora.

Algumas representações estereotipadas de masculinidade podem ser exemplificadas em personagens como o Batman, que exibe sua força e virilidade em batalhas com um físico musculoso, frequentemente retratado como o modelo masculino ideal. Em contraste, personagens femininas são hipersexualizadas e estão relacionadas aos personagens masculinos através de roupas justas e decotadas, usam de seduções e possuem falas provocativas (Nogueira, 2010). Como exemplo, podemos citar a mulher-gato, que frequentemente é utilizada pelos quadrinistas como par romântico de Batman, não possuindo um protagonismo próprio:


Figura 3
Capa da Revista Batman (DC) (2022)
Rakuten Kobo

Dessa forma, podemos inferir que as representações da masculinidade hiperbólica e do feminino hipersexualizado nas revistas em quadrinhos podem ser compreendidas como uma forma de se manter a masculinidade hegemônica em um meio dominado por homens.

5. Considerações Finais

Como vimos, a palavra “macho” tem suas raízes na língua espanhola, referindo-se originalmente ao sexo masculino. Durante o colonialismo e no período que antecedeu a Revolução Mexicana, a palavra originalmente foi cunhada para descrever os mestizos, a quem os espanhóis consideravam como não civilizados, selvagens, agressivos e inconfiáveis.

Com a divulgação do trabalho de Samuel Ramos, em 1934, a palavra “macho” foi utilizada para designar os mestizos, cunhada com um forte teor pejorativo e racista.

Após a vitória da população mexicana na Revolução Mexicana de 1910, com o fim da ditadura de Porfírio Diaz, os mestizos ganharam destaque e se transformaram nos heróis da pátria. No período pós-Revolução, a palavra começou a ser usada para descrever homens que eram considerados líderes e protetores das mulheres e crianças, e que eram capazes de enfrentar desafios com coragem e determinação.

No mesmo período, o trabalho de Samuel Ramos ganhava notoriedade nos EUA. Posteriormente, a publicação de The Children of Sanchez, de Oscar Lewis, reforçou o estereótipo dos mexicanos no lado estadunidense da fronteira, retratados como imigrantes ilegais, trabalhadores braçais, pobres e sem educação.

O uso do vocábulo “macho” nos EUA acompanhou um período em que a população mexicana sofreu forte discriminação racial, desemprego e violência policial, principalmente no sul e no sudeste dos Estados Unidos, sobretudo nas cidades de fronteiras.

Durante as décadas de 1950 e 1960, o termo “macho” foi utilizado para descrever homens considerados arrogantes, agressivos e dominantes. Isso era visto como um comportamento negativo e era criticado por feministas e outros ativistas sociais, daí a origem da palavra “machismo”.

Nas décadas de 1970 e 1980, a palavra “macho” sofreu suas mais significativas alterações. Grupos LGBTQIAP+ apropriaram-se da palavra e, em paródia, utilizaram-na para debater seus direitos; assim, representações artísticas envolvendo a palavra, como o seu uso em canções e no imaginário popular ganharam espaço.

Nesse mesmo espaço, surgiram filmes, anúncios publicitários, revistas femininas e masculinas, em que o “macho” passou a ter sua imagem mais suavizada e foram realçadas características consideradas positivas, como confiança, virilidade, coragem, a imagem de provedor, justamente as características cunhadas pelo “macho” mexicano.

Atualmente, o significado da palavra “macho” ainda é discutido e debatido. Determinadas pessoas continuam a usar o vocábulo para descrever homens rudes e agressivos, enquanto outras usam a palavra para descrever homens que são fortes e confiantes, mas também são respeitosos e igualitários.

Ao lado da discussão acerca da origem da palavra, entram importantes questões sobre o uso de palavras espanholas no inglês com significados deturpados. Talvez, o termo “macho” tenha sido o mais forte exemplo do mock Spanish (espanhol paródico), responsável pela criação de uma imagem discriminatória e estereotipada de toda uma população.

Assim, o estudo conclui que, apesar de a palavra “macho” ter sofrido forte alteração em seu sentido inicial, é importante continuar monitorando e analisando o uso da linguagem, pois ela pode ter implicações significativas para a forma como as pessoas são tratadas e percebidas na sociedade.

Referências

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Bizzocchi, A. (2021). O universo da linguagem. Contexto.

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Galván Torres, A. R. (2021). "Macho": The singularity of a mock Spanish item. Borealis – An International Journal of Hispanic Linguistics, 10(1), 63–85. https://doi.org/10.7557/1.10.1.5577

Gutiérrez, D. (1995). Walls and mirrors: Mexican Americans, Mexican immigrants, and the politics of ethnicity. University Of California Press.

Hill, J. H. (1995). Junk Spanish, covert racism, and the (leaky) boundary between public and private spheres. Pragmatics. Quaterly Publication of the International Pragmatics Association (IPrA), 5(2), 197—212. https://doi.org/10.1075/prag.5.2.07hil

Hill, J. H. (2008). The everyday language of white racism. Wiley-Blackwell.

Janson, T. (2020). A história das línguas: uma introdução (Marcos Bagno, Trans.). Parábola.‌

Lewis, O. (2011). The Children of Sánchez: Autobiography of a Mexican Family. Vintage Books.‌

Machado, F. V. K. (2018). Homens que se veem: masculinidades nas revistas Junior e Men’s Health Portugal. Editora UFOP.

Machillot, D. (2013). Machos y machistas: historia de los estereotipos mexicanos. Paidós.

Mosher, D. L. (1991). Macho Men, Machismo, and Sexuality. Annual Review of Sex Research, 2(1), 199—247. https://psycnet.apa.org/record/1994-33296-001

Nogueira, N. A. S. (2010). Representações femininas nas histórias em quadrinhos da EBAL. História, Imagem e Narrativas, 10(1), 1-14. https://docplayer.com.br/70174047-Representacoes-femininas-nas-historias-em-quadrinhos-da-ebal.html

Paredes, A. (1971). The United States, Mexico, and Machismo. Journal of the Folklore Institute, 8(1), 17—37. https://doi.org/10.2307/3814061

‌Ramos, S. (1963). El perfil del hombre y la cultura en México. Universidad Nacional Autonoma de Mexico.

Notas

[1] 22. Macho. Esta palavra descreve uma pessoa que é muito forte ou masculina. Também pode ser usado para descrever uma pessoa que é arrogante quanto à sua masculinidade. Também foi usado no nome de um lutador profissional e de uma música disco popular da década de 1970. Exemplo: Peter é um cara muito macho, mas isso às vezes é irritante. Ele diz que “homens de verdade não choram”, mas acho que ele está errado. (tradução livre).
[2] A atribuição dos valores positivos ou negativos atrelados ao conceito da palavra “macho” levaram em consideração valores culturais, sociais e econômicos vigentes no momento da pesquisa. No entanto, é imperativo reconhecer que os conceitos atribuídos ao termo "macho" são socialmente construídos e podem variar substancialmente de acordo com a sociedade e o momento histórico vivido.
[3] “Palavras emprestadas, Espanhol paródico, Racismo branco” (tradução livre)
[4] “uma maneira que os anglos nos Estados Unidos podem usar a conversa informal e o humor para reproduzir a identidade subordinada dos méxico-americanos” (Hill, 1995, p. 198, tradução livre)
[5] “se você é ilegal, vá para o sul, Amigo” (Hill, 1995, p. 11, tradução livre)
[6] Os termos destacados significam, respectivamente, “cerveja”, “manhã”, “sem problema” “cocô e xixi”, “muito” e “confusão” (tradução livre)
[7] “um poder de ferir e de nos posicionar como objetos de sua trajetória prejudicial” (Butler, 1997, p. 1, tradução livre)
[8] “violento, grosseiro, irritável, perigoso, impulsivo, fanfarrão, superficial, desconfiado, instável e falso” (Machillot, 2013, p. 48, tradução livre)
[9] “O pelado: pertence a uma fauna social de categoria muito baixa e representa os dejetos humanos da cidade grande. Na hierarquia econômica ele é menos que um proletário e na intelectual um primitivo. A vida tem sido hostil a ele por todos os lados, e sua atitude em relação a ela é de ressentimento negro. É um ser de natureza explosiva cujo tratamento é perigoso, pois explode ao menor toque. Suas explosões são verbais e têm como tema a autoafirmação em linguagem rude e agressiva. Criou um dialeto próprio, cujo léxico está repleto de palavras de uso corrente às quais dá um novo significado. É um animal que se entrega a pantomimas ferozes para assustar os outros e fazê-los pensar que é mais forte e determinado.” (Ramos, 1963, p. 54, tradução livre)
[10] Deve-se notar também que a obsessão fálica dos "descascados" não é comparável aos cultos fálicos, no fundo dos quais está a ideia de fecundidade e vida eterna. O falo sugere ao “descascado” a ideia de poder. Daqui derivou um conceito muito empobrecido do homem. Sendo, com efeito, um ser sem conteúdo substancial, procura preencher o seu vazio com o único valor ao seu alcance: o do masculino. Esse conceito popular de homem tornou-se um preconceito fatal para todos os mexicanos. Ao comparar-se com o civilizado estrangeiro e evidenciar a sua nulidade, consola-se da seguinte forma: “Um europeu – disse – tem ciência, arte, técnica, etc., etc.; aqui a gente não tem nada disso, mas... a gente é muito homem”. Homens no sentido zoológico da palavra, ou seja, um macho que goza de toda a força animal. e O mexicano, amante da fanfarronice, acredita que esse poder se demonstra com coragem. Se eu soubesse que tamanha bravura é uma cortina de fumaça! (Ramos, 1963, p. 55-56, tradução livre)
[11] “ostentação presunçosa, bravata e conversa fiada” (Paredes, 1971, p. 19, tradução livre)
[12] É simplesmente coragem e é celebrada nas canções folclóricas de todos os países. A admiração pelo bravo que morre pela pátria, por um ideal, ou simplesmente porque não quer viver sem honra ou sem fama encontra-se entre todos os povos. É o ideal heróico em qualquer época e em qualquer país. (Paredes, 1971, p. 19, tradução livre)
[13] "Você não passa de uma mulher" significa que você é defeituosa. Seu oposto é ser um macho . O significado moderno da palavra "machismo", assim como o conceito, é na verdade uma invenção anglo. Para homens como meu pai, ser "macho" significava ser forte o suficiente para proteger e apoiar minha mãe e a nós, mas ser capaz de demonstrar amor. O macho de hoje tem dúvidas sobre sua capacidade de alimentar e proteger sua família. Seu "machismo" é uma adaptação à opressão, à pobreza e à baixa auto-estima. É o resultado da dominação masculina hierárquica. O anglo, sentindo-se inadequado, inferior e impotente, desloca ou transfere esses sentimentos para o chicano envergonhando-o. No mundo gringo, o chicano sofre de excessiva humildade e auto-anulação, vergonha de si mesmo e autodepreciação. Perto dos latinos, ele sofre de uma sensação de inadequação da linguagem e do desconforto que a acompanha; com os nativos americanos, ele sofre de uma amnésia racial que ignora nosso sangue comum e de culpa porque a parte espanhola dele tomou suas terras e os oprimiu. Ele tem uma arrogância compensatória excessiva quando está perto de mexicanos do outro lado. Sobrepõe-se a um profundo sentimento de vergonha racial. (Anzaldúa, 1987, p. 83, tradução livre)
[14] Coletando dados para seu estudo sobre a questão da imigração mexicana, o economista Roy L. Garis da Vanderbilt University apresentou uma visão semelhante dos mexicanos em seu relatório ao Comitê de Imigração da Câmara. Citando o que alegou ser uma carta enviada a ele por um “americano preocupado que vive em uma cidade fronteiriça”, Garis inseriu nos registros do comitê uma virulenta representação racista de mexicanos que os caracterizava como tendo "mentes [que] correm para nada mais elevado do que as funções animais - comer, dormir e devassidão sexual. Em cada amontoado de mexicanos encontra-se a mesma ociosidade, hordas de cães famintos e crianças imundas com rostos cobertos de moscas, doenças, piolhos, sujeira humana, fedor, fornicação, promíscua, bastardia, preguiça, peões apáticos e mulheres preguiçosas, feijão e pimentão pavoroso, bebida, miséria geral e invesja e ódio do Gringo.

Essas pessoas dormem de dia e espreitam à noite como coiotes, roubando tudo o que encontram, por mais inútil que seja para eles. Nada deixado do lado de fora está seguro, a menos que esteja trancado ou acorrentado. (Gutiérrez, 1995, p. 53-54, tradução livre)

[15] “Em uma luta, eu nunca desistiria ou diria 'Basta', mesmo que o outro estivesse me matando. Eu tentaria ir para a minha morte, sorrindo. Isso é o que queremos dizer com ser macho, ser viril” (Lewis, 2011, p. 87, tradução livre)
[16] “um complexo de exibição masculina envolvendo demonstrações culturalmente sancionadas de hipermasculinidade, tanto no sentido de agressividade erótica quanto física” (Mosher, 1991, p. 199, apud Gilmore, 1987, p. 130, tradução livre)
[17] Tanto a ideologia tradicional de gênero quanto sua variante hipermasculina chamada “machismo” dividem a humanidade em uma hierarquia de gênero de categorias sociais masculinas superiores e femininas inferiores. (Mosher, 1991, p. 199, tradução livre)
Editores: Lénia Rego e Rita de Simões

Revisão Técnica: Gustavo Freitas

Autor notes

Jonatas de Cerqueira Castro é acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Letras-Inglês da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), campus Professor Alexandre Alves de Oliveira. Áreas de interesse: linguística e estudos literários.


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