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Pedagogias da Sexualidade para Homens Gays: Tutoriais, Confissões e Confidências no Projeto Sem Capa
Pedagogies of Sexuality for Gay Men: Tutorials, Confessions and Confidences in the Project Sem Capa
Pedagogías de la Sexualidad para Hombres Homosexuales: Tutoriales, Confesiones y Confidencias en el Proyecto Sem Capa
Revista Comunicando, vol. 12, núm. 2, e023021, 2023
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação

Comunicação, Género e Sexualidades

Revista Comunicando
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Portugal
ISSN: 2184-0636
ISSN-e: 2182-4037
Periodicidade: Semestral
vol. 12, núm. 2, e023021, 2023

Recepção: 05 Junho 2023

Aprovação: 19 Dezembro 2023

Publicado: 22 Dezembro 2023

Resumo: Sem Capa é um projeto audiovisual cujo desenvolvimento evidencia a homossexualidade e as relações sexuais entre homens, focando “descomplicar o sexo” em 24 episódios, publicados no perfil de um de seus idealizadores, Sa João, na plataforma Xvideos. Neste artigo, objetiva-se compreender, diferentes interações entre espectadores e idealizadores, como a união de informações sobre as relações sexuais e a mostração de nudez e sexo se estabelecem em abordagens pedagogizantes no Sem Capa. O desenho metodológico inspirado na perspectiva indiciária possibilita tensionar repertório conceitual, vídeos e problematização. Identificamos a cumplicidade a partir de confidências e os tutoriais com instruções práticas encadeadas à narrativa da descomplicação que operam formas de ensinar, em conjunto e se rearticulando aos episódios. Concluímos que o Sem Capa visa ser resistência nas relações de poder estabelecidas na sociedade heterocentrada, porém a narrativa investe didaticamente outras normas sobre os espectadores, isto é, quer romper com a heteronormatividade, mas atualiza normas, além de agregar outras para ser um homem gay que se ajuste ao que é melhor para vivenciar a sexualidade e buscar melhor qualidade.

Palavras-chave: Pedagogias da Sexualidade, Homossexualidade, Projeto Audiovisual Sem Capa.

Abstract: Sem Capa is an audiovisual project whose development highlights homosexuality and sexual relations between men, focusing on “uncomplicating sex” in 24 episodes, published in the profile of one of its creators, Sa João, on the Xvideos platform. In this paper, it is aimed to understand, through different interactions between viewers and creators, how the union of information about sexual relations and the showing of nudity and sex are established in pedagogizing approaches in Sem Capa. The methodological design inspired by the indiciary perspective makes it possible to tension the conceptual repertoire, the videos, and problematization. We identify the complicity from confidences and the tutorials with practical instructions chained to the narrative of uncomplication that operate ways of teaching, together and rearticulating themselves to the episodes. We conclude that Sem Capa aims to resist the power relations established in heterocentric society, but the narrative didactically invests viewers with other norms, that is, it wants to break with heteronormativity, but it updates norms, as well as adding others in order to be a gay man who fits in with what is best for experiencing sexuality and seeking better quality.

Keywords: Pedagogies of Sexuality, Homosexuality, Audiovisual Project Sem Capa.

Resumen: Sem Capa es un proyecto audiovisual cuyo desarrollo pone de relieve la homosexualidad y las relaciones sexuales entre hombres, centrándose en el “sexo sin complicaciones” en 24 episodios, publicados en el perfil de uno de sus creadores, Sa João, en la plataforma Xvideos. En este artículo, pretendemos comprender, a través de diferentes interacciones entre espectadores y creadores, cómo la unión de la información sobre las relaciones sexuales y la exhibición de la desnudez y el sexo se establecen en los enfoques pedagógicos en Sem Capa. El diseño metodológico inspirado en la perspectiva indiciaria permite tensionar el repertorio conceptual, los videos y la problematización. Identificamos la complicidad a partir de confidencias y las tutorías con instrucciones prácticas encadenadas a la narrativa de la descomplicación que operan modos de enseñar, juntándose y rearticulándose a los episodios. Concluimos que Sem Capa pretende resistirse a las relaciones de poder establecidas en la sociedad heterocentrada, pero la narración inviste didácticamente a los espectadores con otras normas, es decir, quiere romper con la heteronormatividad, pero actualiza normas, además de añadir otras para ser un hombre gay que se ajusta a lo que es mejor para vivir la sexualidad y buscar una mejor calidad.

Palabras clave: Pedagogías de la Sexualidad, Homosexualidad, Proyecto Audiovisual Sem Capa.

1. Introdução

A gente vai falar de doença, a gente vai falar de higiene íntima, que é uma coisa muito pouco tratada, especialmente no caso de higiene íntima de homens. Vai ter vídeo ensinando a fazer chuca, vai ter vídeos falando de brinquedos sexuais, de aplicativo, de relacionamento, de pornografia, enfim. Vai ter vídeo de tudo o que eu souber falar aqui. E sempre de forma aberta, informal, mas embasada. (Sa João, 2018a, 2min34s–2min56s)

Essa abertura do primeiro episódio do Sem Capa focaliza temáticas e intenções que orientam o desenvolvimento de todo o projeto audiovisual. A fala de Sa João — um dos idealizadores, apresentador e titular do canal na plataforma Xvideos, em que a iniciativa está publicada — narra rumos que visa assumir e acentua a meta de tornar inteligíveis as temáticas do sexo ao público de homens gays. Em 24 episódios, a intencionalidade dessa textualidade (Leal, 2018) é “descomplicar o sexo”, conforme a descrição do Sem Capa. Quando lançado em 2018, os vídeos eram liberados às quintas-feiras à noite na Pornhub, mobilizando possibilidades de armazenamento da plataforma como repositório e funcionalidades disponíveis para os usuários interagirem, e no site de Sa João (sajoao.com), atualmente indisponível. Posteriormente, as publicações foram disponibilizadas no perfil de Sa João na Xvideos, em que permanece acessível. Nessa plataforma, as visualizações ultrapassam 5,8 milhões, e o destaque das métricas se dá ao 13º vídeo, “Bota a camisinha Parte 2”, em que Sa João ensina como um homem pode usar preservativo interno, ultrapassando 900 mil reproduções; em compensação, o 17º vídeo, “Sindibixa e Pokemon”, que trata das experiências possíveis de serem vividas por homens gays, tem a menor quantidade de visualizações, com 53 mil[1].


Figura 1
Galeria do perfil de Sa João na Xvideos
Captura de tela, acedido em: https://www.xvideos.com/amateur-channels/sa_joao

Para atingir o objetivo, lançou-se na empreitada de produzir 24 vídeos[2] em um espaço plataformizado sem restrições discursivas e imagéticas, no qual foi possível filmar relações sexuais e corpos nus. Do primeiro ao último vídeo, há uma construção narrativa com o intuito de constituir o propósito do Sem Capa. As temáticas se entrelaçam em interesses maiores, como saúde, anatomia, “modos de fazer” e experiências. É importante saber que a apresentação é conduzida, principalmente, por Sa João em frente à câmera, se dirigindo diretamente ao espectador como uma conversa íntima com quem acompanha. O enquadramento em primeiro plano, com ângulo direcionado para o peito e o rosto de Sa João, quer convocar quem assiste para uma relação mais próxima que desperte curiosidade e engaje espectadores ao conteúdo. Há uso de uma câmera fixa e com alta qualidade de captura. Luzes roxas compõem o cenário, e as gravações sugerem a realização à noite, o que se associa tanto ao horário de liberação dos episódios à época, quanto à festa Hole em que Sa João trabalha e convida o público para frequentar após assistir o Sem Capa daquela noite.

Os episódios têm similaridades nos primeiros segundos, em que, quase sempre, Sa João começa caminhando nu em um quarto, deixando a cama na qual ele e outros homens fazem sexo, seguindo em direção à câmera, assenta-se diante ao equipamento e começa a falar. No último episódio, revela-se que esse local é um quarto no apartamento de seu namorado, Charlinhus, co-idealizador. A estética das produções tem semelhanças no desfoque da imagem de fundo, impossibilitando ter nitidez para enxergar quem são as pessoas participando das filmagens, mas permite notar vultos das movimentações e entrever corpos em cena. Também é apenas no último vídeo que a imagem de fundo é focada, e Sa João e Charlinhus encerram o projeto fazendo sexo.

Frente a emergência desse projeto audiovisual, neste artigo, objetiva-se compreender, a partir de olhares para as diferentes interações entre espectadores e idealizadores, como a união de informações sobre relações sexuais e a mostração de nudez e sexo se estabelecem em abordagens pedagogizantes no projeto audiovisual Sem Capa. Como desenho metodológico, este trabalho aproxima-se do paradigma indiciário (Braga, 2008) para conhecer a pluralidade do fenômeno investigado, articular elementos particulares da situação abordada com os conhecimentos do campo e desentranhar tópicos concernentes à Comunicação. Por meio da triangulação entre discussões teóricas, objeto empírico e problematização, é possível articulá-los e tensioná-los.

2. Procedimentos Metodológicos

A partir da delimitação do corpus composto pelos 24 vídeos para estabelecer a reunião de indícios envolvidos nas camadas audioverbovisuais do projeto, nesta pesquisa, adotamos operadores analíticos para auxiliar a sistematização dos dados. Com finalidade analítica-descritiva, o interesse dessa pesquisa é realizar um percurso de reflexões e tensões com um fenômeno comunicacional.

Baseados nas notas teórico-metodológicas de Abril (2007) e Leal (2018) sobre textualidades, seguimos para etapas de assistir e decupar detalhadamente os episódios, bem como salvá-los, conforme indica Martino (2018) para que uma cópia do material seja resguardada, a partir da funcionalidade de download da plataforma Xvideos. Com esse caminho, foi possível ter uma visão conjunta dos episódios e caracterizá-los conforme as especificidades que se evidenciavam.

Cabe-nos explicar que o paradigma indiciário (Braga, 2008) é um avanço aos estudos de caso por permitir um conhecimento da pluralidade do fenômeno de pesquisa investigado, trazer indícios junto aos conhecimentos do campo, compreender realidades concretas e notar o comunicacional dos fenômenos sociais. Para Braga (2008), esses procedimentos são realizados a partir do levantamento dos indícios considerados essenciais para o objetivo e o objeto empírico da pesquisa e pela articulação deles com o repertório teórico-conceitual para gerar inferências sobre o que se estuda. Assim, é um processo de “tensionamento do objeto pela teoria” (Braga, 2008, p. 82).

A partir desse trabalho com o corpus, as reflexões analíticas a seguir seguem pela perspectiva das pedagogias da sexualidade (Foucault, 1999), que possibilita entrelaçar e oferecer parâmetros de abordagem e tensionamentos para problematização no Sem Capa, haja vista que os processos pedagógicos são construções históricas cujos desdobramentos e atualizações estão continuamente se estabelecendo nas culturas.

3. Dispositivo da Sexualidade: Enredamentos, Pedagogias e Atualizações

A sexualidade é provida de instrumentalidade nas relações de poder[3] e desenvolvida, como Foucault (1999) detalhou, por meio de rituais confessionais e da escuta clínica desde o século XVIII. Há uma série de mecanismos de controles de saber e poder produzidos por múltiplos discursos sobre o sexo. Essas ações aconteciam pelas disciplinas para atingir a população. Como o filósofo apontou, o Estado intercedeu na fecundidade dos casais, evitando ou estimulando a procriação. A psiquiatrização do prazer perverso, por sua vez, considerou o “instinto sexual” como autônomo e, ao demarcar, normalizou e patologizou comportamentos. “Perverso” assinalou o “doentio” e necessário de ser corrigido. Nesse sentido, essas estratégias criaram a sexualidade, “[...] tornando-se assim um objeto de preocupação e de análise, como alvo de vigilância e de controle, produzia ao mesmo tempo a intensificação dos desejos de cada um por seu próprio corpo…” (Foucault, 1998, p. 146-147). Assim, a sexualidade adquire complexos significados na composição das relações com desejos, prazeres e o próprio indivíduo.

Nessa esteira de pensamento, Foucault (1999) caracterizou como dispositivo da sexualidade[4] uma rede de relações para controlar pessoas, na qual “[...] a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder” (Foucault, 1999, p. 100). Entende-se, assim, que as táticas se referem à tentativa de construir a sexualidade e possibilitar controle, por existirem regimes culturais e formas de poder engendradas em nossas apreensões e experiências de sexualidade. Não há uma única configuração desse dispositivo capaz de abranger todas as sociedades, pois apresenta versatilidade em suas estratégias de intervenção, (des)arranjando-se nas relações de poder e saber (Oksala, 2011).

A definição de sexualidade como dispositivo demarca historicidade, com um conjunto de princípios regulatórios, incitados e atualizados, encarnados em campos práticos, que formam um aparato sociotécnico que afeta e guia relações sociais. Foucault (1999) quer situar, portanto, a emergência de uma nova “tecnologia do sexo” baseada na vigilância de si e por domínios da economia, medicina e pedagogia, cujos objetivos eram proteger e impulsionar pessoas produtivas para trabalhar, que podiam procriar e satisfazer demandas capitalistas em ascensão (Spargo, 2019). A expansão do dispositivo da sexualidade pela sociedade opera distintamente em cada localidade, assim como os modos de se estruturar. Esse dispositivo, pensado pela burguesia, se alastrou pelo ocidente com diferentes funcionamentos e resultados, além de que segue em constante reconfiguração de modo a atuar nas relações de poder.

Ao apreender que a sexualidade foi provocada discursivamente para produzir verdades sobre o sexo, nota-se que o ritual confessional extravasou da tradição religiosa cristã para outros dispositivos. A pedagogização participa desse complexo empreendimento em articulação a tantos mecanismos de vigilância dos sujeitos cujos controles dos corpos visavam a docilização (Foucault, 1999). A biopolítica do Estado destinou esforços na educação a fim de controlar e interferir na vida das pessoas. A pedagogia tem caráter educativo e assume discursos normativos de prescrição do que é admitido como normal na lógica ocidental (Miskolci, 2020). Para tanto, como Butler (2019) elucida, esses movimentos se dão pela linguagem na tentativa de estabelecer uma gramática da sexualidade. Nesse sentido foucaultiano, a regulação da sexualidade se deu pelo desejo, por intermédio da pedagogia e de instituições como religião e ciência, penetrando-a rigorosamente, definindo desvios e normalizando corpos e subjetividades. O dispositivo, assim, age pelo desejo, o qual precisa ser controlado pelo Estado a partir do modelo familiar reprodutivo (Miskolci, 2019).

Cabe considerar, em uma interpretação atual das configurações do dispositivo da sexualidade, as transformações na sociedade para além do propósito reflexivo foucaultiano, como tecnologias químicas e farmacológicas, pornografia na cultura de massas e introdução de procedimentos plásticos para gestão do corpo, propriedades decorrentes pós-Segunda Guerra Mundial. Todas essas camadas trazem questões concernentes à sexualidade, ao desenvolvimento de subjetividades e ao esforço projetado aos corpos (Preciado, 2020). Esse cuidado com as transformações do regime disciplinar é ressaltado por Miskolci (2019) ao apontar, por exemplo, o desempenho dos meios de comunicação na sociedade, trazendo outras balizas para a conformação da sexualidade. Junto a tantas instituições que participam dos processos de constituição enquanto sujeitos, as mídias tornam-se também espaços potentes de construção cultural, produzindo significados. Fischer (2002, p. 153) conceitua esses processos por “dispositivo pedagógico da mídia”, o qual envolve produção, circulação e veiculação de diferentes produtos midiáticos. Seguindo passos foucaultianos, as mídias são locais de formação na constituição de subjetividades. Envolvem aspectos discursivos e não discursivos por meio dos quais somos convocados a falar de nós mesmos, uma ação que atua como gesto confessional, produções que trazem modos de ser e estar em certa cultura e propõem conhecimentos sobre nós. Contudo, não se trata de uma introjeção passiva ou unilateral das mídias, e sim de processos complexos em nossos agenciamentos enquanto indivíduos (Fischer, 2002).

A genealogia de Foucault (1999) permite compor lentes reflexivas das complexidades da sexualidade de modo a vislumbrar dinâmicas em movimentação na contemporaneidade. Hoje, com processos de midiatização mais abrangentes, as mídias tornam-se espaços privilegiados e potentes na composição dessas tramas culturais que incidem sobre corpos e desenvolvem pedagogias da sexualidade (Foucault, 1999). Esses processos validam certas identidades e práticas, enquanto outras são colocadas à margem, violentadas e não reconhecidas. A seguir, as significações culturais dadas aos corpos e às sexualidades são estranhadas com a notabilização dos movimentos de esquivar, alterar e subverter aos regimes normativos (Louro, 2019).

4. Estranhamentos Queer para Repensar a Sexualidade

Os desdobramentos históricos da sexualidade evidenciam avanços no pensamento por uma visada cultural, social e política, compreendendo-a como construção ininterrupta realizada por todos durante a vida. Essa transformação de algo ligado à natureza, que possuiríamos como uma essência pré-estabelecida, para uma compreensão das sexualidades como processos culturais e plurais representa significativo avanço para discussões sociais, humanas e políticas (Louro, 2019).

Reconhecer que somos sujeitos fragmentados e em constantes transformações potencializa perceber processos pelos quais enfrentamos nessa viagem da vida, metáfora de Louro (2020) sobre como inúmeros movimentos e percursos integram nossas existências, quem somos e as mudanças das quais somos parte. Nesse emaranhado de inscrições, a sexualidade é um campo atravessado por modos, ordenamentos e recomendações para controlar e demarcar significados. Convém, contudo, realçar a pluralidade que nos compõe, pois muitas identidades estão em conflito e embate em nós (Silva, 2014). As ações pedagógicas têm objetivos específicos de formar o indivíduo com identidades aparentemente sólidas e correspondentes a determinados comportamentos, expectativas e anseios. Essas pedagogias culturais (Louro, 2008) são normas ajustadas nas relações de poder, nas quais diretrizes, declarada ou tacitamente, interpelam e buscam totalizar sentidos para vivências, marcar lugares para existir e fixar características.

Ao reduzir sexualidade à natureza, as instituições fazem proposições cujo anseio é corresponder a ordem “sexo-gênero-sexualidade” (Louro, 2020, p. 15). Nesse continuum, no qual sexo é identificação anatômica de pênis ou vagina, as pessoas são classificadas no nascimento (e também antes) como homem ou mulher, sendo impreterivelmente heterossexuais nos relacionamentos. A fabricação de corpos e as atribuições de sexualidade sobre nós ocorrem desde a classificação de um órgão como “sexual”, o qual ordenará como este indivíduo é e deverá ser. Essa atribuição totalizante aponta como um corpo é sexuado e, logo, existente. Quem rompe a expectativa dessa linha é considerado problema, desvio, estranho e constantemente violentado (Preciado, 2014). Mas, “apesar de tudo isso, a sequência é desobedecida e subvertida” (Louro, 2020, p. 16). Não se consegue saber quem quebrará essas normativas, por quais formas acontecerão desobediências e os meios de resistências.

Butler (2019) destaca que os corpos criam e se produzem por signos, inscrevendo-os na cultura e nas imagens dela, entretanto, enfatiza que os corpos são desenvolvidos a partir de normas reguladoras que os inscreverão nas relações de poder e na cultura, ou seja, há um processo pedagógico de educação que se dá, por vezes, implicitamente e, por outras, de forma expressa. Mas não se trata de uma aderência passiva, ao contrário, há resistências nessas relações de poder, por isso, elas têm que ser repetidas nas práticas discursivas e construídas através do tempo para materializar o “sexo”. Por essa razão, é possível estremecer e voltar-se contra, visto fissuras desses empreendimentos normativos (Butler, 2019).

Com esses engenhosos processos, “[...] os corpos são o que são na cultura”, conforme Louro (2020, p. 69). Todos esses significados atribuídos culturalmente constituem marcas que diferenciam sujeitos, alocando-os em escalas binárias daquilo que é bom ou ruim, aceitável ou inaceitável, digno de viver ou morrer, permitido para ocupar o espaço público ou se deverá permanecer escondido, e assim segue. Pensar em corpos é evidenciar marcadores de sexualidade, gênero, classe, idade, origem, peso, deficiências, etnia e outros que são incorporados à cultura e regem um conjunto indescritível e inumerável de ações, subjetividades e para nossas existências.

Cabe alertar que os processos de instauração das normas na sociedade se dão historicamente por homens brancos, heterossexuais, seguidores do cristianismo e de classes sociais de alto poder aquisitivo, os quais são centralidades das referências históricas e, consoante a isso, não carecem de nomeação. Tudo que é “outro” desse referente é demarcado, classificado e violentado socialmente (Silva, 2014). Aqueles indivíduos “aceitos” são instituidores das representações de si e dos outros (Louro, 2003). Por esses motivos, as cristalizações de estereótipos e marcas sobre pessoas e grupos sociais ocorrem no cotidiano, mas também se atualizam. É preciso, pois, que normas sejam sempre evidenciadas discursivamente e, da mesma forma, forças contrárias a elas. Essa dinâmica linguística aponta a instabilidade. Por necessitar da reiteração, as normas têm caráter instável e incompleto, propriedades que garantem possibilidades de encontrar fissuras para resistir (Butler, 2019).

Segundo Louro (2019), a educação dos corpos para produção da sexualidade “normal” exige ensinamentos. Uma série de marcas é designada aos corpos das pessoas, que deixam cicatrizes (Louro, 2003). Para tanto, instituições canônicas para o processo de ensino e aprendizagem tornam-se importantes na disciplinaridade e no esforço de cada um se voltar para si de modo a perceber se corresponde aos atributos do que é “aceito”. As marcas são valoradas, isto é, as que valem mais são aquelas que atribuem significados “bons” socialmente aos corpos. Já as “ruins” serão limitadoras em diferentes momentos da vida (Louro, 2003). Em culturas que privilegiam matrizes cisheterossexuais, ser homem cisgênero e heterossexual é sinônimo de “normalidade”, bem quisto e circular por múltiplos espaços sem objeção. Agora, qualquer indivíduo que desvie da normatividade sofrerá violências.

Apesar de haver grande afinco para fixar padrões específicos, a assimilação e a negação das normas implicam agência e participação de cada um. A multiplicidade de significados dos corpos na cultura aponta para mudanças. Não quer dizer que um determinado significado atribuído ao corpo é pronto e dado, ao contrário, escapa, desliza, varia entre espacialidades e temporalidades. É nesse sentido que movimentos que não cobiçam a norma se organizam para lutar pela afirmação da diferença, subverter e ressignificar o “queer” e ir contra a docilização. Essas ações exprimem a ficção das construções normativas no sentido de estranhá-las, criticá-las e fissurá-las (Spargo, 2019).

Na esteira dos estudos queer, portanto, o estranhamento ao dispositivo da sexualidade e seus arranjos se dá por haver corpos cujas pedagogias e estratégias de controle não funcionam ou só funcionam em parte. O corpo estranho (Louro, 2020) contesta a cultura na qual se localiza, o tempo e o espaço em que se situa, a sociedade da qual integra. A inquietude diante ao que é considerado normal é constitutiva da indocilidade provocadora e questionadora ao destoante das normas. É uma ação de romper a formatação de modelos e ampliar possibilidades políticas de afirmação para que todas as vidas vivam as diferenças.

5. Aulas para “Descomplicar o Sexo”

Deixa eu te fazer uma pergunta: tudo o que você aprendeu sobre sexo na sua vida, você aprendeu onde? E com quem? Eu posso dizer, pela minha experiência, que, com certeza, eu não aprendi nem pela minha família, nem na escola, nem pelos médicos, que são as referências usuais que a gente tem quando a gente vai aprender qualquer coisa na vida, né? Relacionado a saúde, comportamento, etc., mas, no caso do sexo, não é assim para maioria das pessoas. Então, a gente acaba recorrendo à única alternativa restante: a internet. E como todos nós sabemos, não é mesmo, a internet é uma fonte inesgotável e totalmente confiável de todo tipo de informação, não é? Então foi por isso que a gente criou esse canal maravilhoso! Aqui a gente vai falar de sexo de forma prática, sem esse negócio de esqueminha, sem desenhinho, sem códigos, sem rodeios, sem... capa, entendeu? (Sa João, 2018a, 25s–1min15s)

“Descomplicar”, verbo cujos significados denotam possíveis ações de tornar inteligível, de fácil compreensão ou simples. Exige esforço de alguém para eliminar dificuldades de entendimento, impedir confusões e tornar menos complexo, prático e acessível algum fenômeno. Faz-se necessário, portanto, um investimento pedagógico no sentido de oferecer explicações didáticas que ensinam e abram caminhos para tal desígnio.

Contido no objetivo do Sem Capa, “descomplicar” pode estar envolvido nessa trama semântica, limitando-se, nesse caso, às relações sexuais, à homossexualidade e aos corpos de homens gays. Em vista do corpus e alicerçados na fundamentação teórica, refletimos as modulações pedagógicas abrangentes no projeto, vislumbrando apreender relações que buscam atingir a inteligibilidade objetivada pelo Sem Capa.

Nesse caminho, depreendem-se dois aspectos pedagogizantes, que investem na relação com os espectadores, propostas de ensinar, constituintes da trama textual do canal: confissões e confidências como ações entrelaçadas e tutorização do sexo. Cada um desses pontos interliga outros pelo objetivo de “descomplicar o sexo”. Contudo, ponderamos que as reflexões foram executadas a partir de nossos posicionamentos nessa rede textual e alicerçados pelo arcabouço teórico-metodológico mobilizado, o que indica a possibilidade de outras inflexões a depender da leitura e das lentes conceituais mobilizadas para análise do fenômeno comunicacional.

5.1. Confissões e Confidências do Sexo

A secularização da confissão de um ritual canônico religioso às práticas médicas e psiquiátricas instaurou pedagogias na produção de corporalidades e saberes sobre os indivíduos. A atualização dessa prática de controle tem funcionamento significativo para valoração moral, demarcação dos desejos aceitáveis e instituir mecanismos para o detalhamento da subjetividade com o fim de produzir verdades do sexo (Foucault, 1999). Esse investimento aparece atualizado e específico no Sem Capa.

Embora sejam atos que se interseccionam, dificultando separá-los, como Souza (1993) estudou, reconhecer sutilezas que diferenciam confissão e confidência é proveitoso para apreender a narrativa do Sem Capa. Ao recuperar a confissão como uma ação cristã de retomada para si com base em concepções de pecado atestadas pelo sentenciamento de um sujeito ou uma organização, é possível compreender uma separação hierárquica entre envolvidos nesse tipo de prática discursiva. Em vista de seu objeto empírico (cartas enviadas por pessoas homossexuais ao Somos: Grupo de Afirmação Homossexual) e transformações ocorridas através do deslocamento do tempo, Souza (1993) relaciona a prática da confissão pública como ato de reconhecimento e de identificação em um grupo. Não necessariamente a confissão é apenas conduzida pela lógica do poder em reprovar atitudes, mas de afirmação de si.

Cabe apreender como no século XIX o sentido afirmativo da confissão desaparece, embora essa característica estivesse presente no cristianismo primitivo e volta a ser retomada entre as minorias nos anos 1970 e 1980 como gesto propositivo. “No processo discursivo da subjetividade homossexual, esta dimensão afirmativa da confissão expressa-se na tensão entre o ‘assumir-se’ e o ‘enrustir-se’, fundando uma ordem diferente de relação entre o público e o privado” (Souza, 1993, p. 64). Entre essa ambivalência de assumir e enrustir a sexualidade, a confidência apresenta atributos para essa atualização.

A confissão é um ato de desvelar e velar de si. A pessoa confessa para outrem, supostamente em hierarquia superior, mas conta com o segredo ao que foi enunciado. Porém, “no discurso confidencial, os interlocutores encontram-se num mesmo nível de reciprocidade. Ao contrário da confissão, cuja estrutura enunciativa impõe uma posição estatutária que separa aquele que escuta daquele que confessa” (Souza, 1993, p. 65). Souza (1993) identifica que se ocultavam informações sobre remetente nas cartas para preservar esse silêncio de quem as enviava. O acordo de confidencialidade nas correspondências recebidas pelo grupo Somos indica semelhanças com as reflexões com o Sem Capa. Guardadas as diferenças entre modos enunciativos e localização espaço-temporal, sobretudo em razão das emergências da epidemia de HIV/aids e o contexto histórico-político daquele momento, nota-se que os espectadores do Sem Capa confidenciam desejos, práticas sexuais e questões sobre si mesmos e sobre o que o canal lhes interpela por comentários, em muitos casos, com identidades impossíveis de serem “descobertas”, visto as fotos de perfil expostas ali não terem rostos ou a nomeação não se referir diretamente ao nome próprio, propriedades do anonimato possíveis em razão da Xvideos e a configuração na internet. Embora a plataforma na qual estão e as dimensões do on-line permitam resguardar o anonimato, escolhido por razões pessoais e coletivas, bem como por estar atrás de uma tela assistindo sem ser visto por outros usuários, isso forma uma espécie de pacto de cumplicidade entre envolvidos. Por pressupor que todos são homens gays unidos por intenções semelhantes ao conteúdo, constitui-se a confidencialidade entre Sa João e Charlinhus (idealizadores) e o público (espectadores).

Com cuidado para tensionar as representações masculinas visualizadas com Louro (2017) em nosso fenômeno, nota-se uma característica comum no Sem Capa. cumplicidade. Esse companheirismo estabelecido entre intercâmbios e similidades de vivências gays tem outros intuitos como as conexões entre público e o projeto por outras plataformas, por exemplo, Instagram, anunciado no encerramento dos episódios como convite para seguir os idealizadores, e também nos momentos em que é relatado o recebimento de mensagens privadas de pessoas narrando experiências e agradecendo pelas publicações (Sa João, 2018m). Ainda, a confidencialidade se arranja por interpelações, perguntas e provocações que sugerem aos espectadores uma retomada de si, como o exame de consciência da confissão, para se autoquestionar. É um agir confidencial por estarem entre “iguais”, com companheirismo e pressupostas similaridades entre experiências.

Sa João, predominantemente, Charlinhus e Ton (convidado do 14º vídeo) expõem continuamente sobre o que são e de que jeito vivenciam a sexualidade, seus corpos e prazeres. Como Foucault (1999) trouxe, confessamos ao longo de nossa vida como ação de revelar quem somos continuamente. Desse modo, o canal se torna um espaço confessional, em que indivíduos frente à câmera confessam quem são, como experienciam a homossexualidade, o que preferem, desejos, expõem intimidade e se constroem narrativamente. Apesar de a confissão ser empreendida no pensamento foucaultiano na escala hierárquica do poder pastoral, psiquiátrico e jurídico, aqui, há diluição da lógica de poder no sentido se aproximar da audiência desejada e integrar-se, dado que interlocutores também estabelecem confissões de um local não abrangido pela heterossexualidade. A via de mão dupla das confissões aparece em comentários que representam revelações, como: “Eu não uso camisinha 😶😶 porque confio no meu parceiro 😶” (sic), “Ja usei a camisinha feminina e ela e bem pratica mesmo” (sic) ou “Aprendendo muito.. nunca fiz xuca” (sic). Porém, o lugar ocupado por Sa João é fundado numa ideia de confissão, ou seja, ele se autoriza porque confessa e, simultaneamente, impõe-se aos espectadores; estes, por sua vez, respondem ao lugar autorizado do canal, inclusive pela assimetria das condições de enunciação, borrando limites entre confissão e confidência. Os modos como Sa João se porta sugerem esse borramento, que não se dá, porém, pela posse da verdade por parte dele, ou seja, o lugar de preceptor que assume sugere o estabelecimento como centro da experiência.

O elo unificador entre espectadores e idealizadores no decurso da narrativa se desmancha no encerramento do projeto. O último episódio não apenas simboliza o fim dessa troca, mas frisa, através da declaração de Sa João, a separação entre ele de quem assiste: “Isso nos leva a um ponto muito delicado que eu queria tocar aqui, se você só me conhece pelos meus vídeos ou pelas minhas redes sociais, você não me conhece. Eu não te conheço e você não me conhece [...]” (Sa João, 2018m, 5min27s–6min09s). E continua:

Vou te contar um segredo, isso daqui é uma persona, todo youtuber qualquer pessoa que, famosa ou não, aquilo ali que você tá vendo é só parte daquela pessoa, não é a realidade nua e crua de quem ela é. Então, não, nós não somos íntimos, você não me conhece. Então, por causa disso, certas atitudes não são, ou pelo menos não deveriam ser, aceitáveis [...]. (Sa João, 2018m, 6min10s–7min05s)

Esses trechos são ditos entre justificativas motivadoras para o encerramento da iniciativa, sobretudo pelo fato de os espectadores enviarem fotos nus pela conversa privada no Instagram sem autorização. Com esse posicionamento, o pacto confidencial é rompido e, outra vez, separa-se uma hierarquia entre quem conduz o projeto e pessoas que consomem o conteúdo. Enquanto marca o distanciamento, aproxima-se novamente no fim do episódio com agradecimentos e convites para o próximo projeto.

5.2. Tutorização do Sexo

Permanecer nu durante a gravação designa possibilitar com que temas — colocar a camisinha, ensinar passos para higienização, mostrar como se depilar, explicar a anatomia peniana etc. — sejam demonstrados no próprio corpo. Essa ação, sublinhada por Sa João, quer instruir de forma prática certas ações no próprio corpo, um gesto que visa adquirir veracidade ao modo como acontece, e não propor esquematizações que fogem da realidade ou dificultam a exposição.

O primeiro vídeo já acentua esse percurso de ensinar. “E a primeira coisa que eu quero mostrar aqui, pra gente iniciar essa jornada mundo do sexo adentro, é algo bem simples: como colocar a camisinha” (Sa João, 2018a, 2min56s–3min08s). No episódio, Sa João explica como tutorial, apresentando passo a passo para usar corretamente um preservativo, tendo o enquadramento da imagem em seu pênis ereto. Ao ensinar no próprio corpo, ele mostra dificuldades que podem ser enfrentadas por outras pessoas, situações que não aconteceriam com esquemas ou ilustrações.

Embora haja a finalidade de conferir realismo ao que propõe, os vídeos são injuntivos ao trazer instruções para os espectadores gerirem suas experiências sexuais conforme parâmetros mostrados. Ao mobilizar uma linguagem objetiva para sua tutoria, Sa João explica gradativamente como se deve fazer algo. A interação pedagógica é de ordem explícita e definida por imperativos, como nos tutoriais para usar preservativo e lavar o pênis (Sa João, 2018a; Sa João, 2018d).

Além de ocorrer a orientação demonstrada no corpo, há modos de injunção que se dão pelos conselhos, funcionando como pareceres para uma experiência consigo e socialmente melhor, ou pelas definições alicerçadas em saberes científicos, trazendo conhecimentos comprovados cientificamente por instituições, ou dados visando sistematizar informações. Os aconselhamentos se voltam ao uso e conscientização da camisinha, sobre respeitar o outro e não enviar “nudes” sem consentimento, sobre refletir a “saída dos armários”, entre outros. Há exemplos em todos os episódios, que dialogam com o ato de aconselhamento proposto no canal. Do 1º ao 24º vídeo, a narrativa se funda em orientações para ensinar. Tendo explicações científicas ou dados, confirmamos com a mobilização de informações do site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou, ainda, de fabricantes de preservativos.

Os vídeos do Sem Capa, maioritariamente, começam e terminam seguindo os mesmos moldes, com Sa João e outros homens fazendo sexo no fundo do quarto, ações continuadas durante o episódio e funcionam se integrando como “cenário”. Nesses momentos, as filmagens não revelam quem está ali. Essa estratégia de desfocagem, embora seja um chamariz para quem assiste na plataforma Xvideos repleta por produções voltadas às relações sexuais, possibilita, mesmo com limitações imagéticas, perceber performances sexuais das pessoas envolvidas na gravação, ver movimentos corporais, ouvir barulhos. Essa ação é reiterada pela própria fala de Sa João no 18º vídeo: “Eu sei que é difícil prestar atenção no que eu tô falando com tudo que está acontecendo aqui atrás, mas vai lá, entendeu?” (Sa João, 2018j, 4min56s–5min06s).


Figura 2
Abertura e encerramento de um dos episódios, Sigilo (Sa João, 2018h)
Captura de tela em 5s e 7min18s

Esse aspecto reforça a atenção em razão de os corpos em exibição com nitidez serem de Sa João, sobretudo, Charlinhus e Ton, convidado. Os dois primeiros se apresentam nus e evidenciam corpos musculosos e condizentes com ideais vigentes de atributos da masculinidade e de beleza corpórea para homens. Já o convidado aparece com acessórios típicos de performances de práticas de Bondage, Disciplina, Dominação, Sadismo, Submissão e Masoquismo (BDSM). Os demais corpos em cena são percebidos de forma fantasmática, com sombras e mistério. São pessoas opacas pelo recurso da imagem, que aparecem, em simultâneo, como corpos que vemos e não vemos, compondo o cenário, mas indefinidas. Essa materialidade entrevista do corpo constitui uma estratégia para que o primeiro plano e o foco do episódio se concentrem no que está sendo refletido e exposto na tela, contudo a ação é uma marca simbólica que reduz aqueles indivíduos apenas às performances sexuais. Logo, são corpos em cena para garantir a finalidade masturbatória, o entretenimento do espectador que está na Xvideos, estreitando diálogo com outras produções sexuais e recorrendo à maneira de se ligar ao propósito de “falar de sexo, fazendo sexo”.

Em contraposição à redução do corpo ao sexo, a audiência apresenta vontade de ser inserida na realização das gravações. Os pedidos para participação eram promovidos por Sa João durante o começo do projeto, mas encerrado no quinto episódio com uma advertência (Sa João, 2018c). Enquanto isso, pedidos para colaborar com as gravações aconteciam também via comentários nas postagens. Nesse sentido, a dimensão corporal assume valores e funções apenas sexuais, limitando-se ao destaque apenas em que está sendo projetado em/para a tela (principalmente, Sa João), e os outros corpos que unicamente assombram a filmagem para captura das relações sexuais.

O corpo do público também é alvo do projeto. Nessa via, empreende-se uma pedagogia de eficácia e democracia dos prazeres. As proposições dirigidas aos espectadores para usufruírem mais e melhor nas relações sexuais traçam direcionamentos para alcançar esse objetivo orgástico. Com recomendações para ter saúde melhor, obter mais prazer, indicações de meios para explorar o próprio corpo, o Sem Capa evidencia uma economia sobre corpos.

Nessa esteira de sugestões, os espectadores são aconselhados a investir em experiências, como enuncia Sa João (Sa João, 2018g, 14min09s–14min26s): “Então, vai atrás, não se impeça de explorar esse lado da sua sexualidade porque não tem nada de errado com isso, e pode te fazer muito bem, pode te fazer uma pessoa muito mais saudável porque você está explorando a sua sexualidade ao máximo”. A proposição para desfrutar a sexualidade intensamente é a ação do dispositivo da sexualidade (Foucault, 1999). Outra indicação é lidar estética e higienicamente com os pelos corporais; ou conhecer os limites do próprio corpo; e recomendações para estimular a exploração da sexualidade, em outros momentos. Assim, o projeto assimila que os prazeres “melhores” estão nos próprios indivíduos, basta que invistam e inovem em outras práticas, na busca por descobrir possibilidades ocultas, deixem de lado amarras de moralismos e impedições que constrangem certas ações, para que, assim, usufruam da diversidade de práticas sexuais e potencializem o ato de gozar.

Essas propostas também se fundam em uma lógica de democracia dos prazeres, isto é, todo mundo pode desfrutar do próprio corpo ou encontrar parceiros que apreciem o mesmo (Sa João, 2018e). Se por um lado ocorrem incitações para que todos encontrem satisfação sexual e vivenciem a sexualidade da forma como julgarem pertinente, por outro, a ação de Sa João é de estimular a autorreflexão e exibir, sem barreiras ou interposições, como deve ser uma vivência plena da sexualidade. Para tanto, ele interliga o surgimento do projeto com base em uma suposta ausência de espaços para conversas sobre a sexualidade. Abaixo, o trecho do episódio “Parece uma pornô” discute mecanismos constituintes da pornografia audiovisual e se repete sobre esse presumido apagamento social da sexualidade.

Só que, muitas vezes, pornografia faz parecer que é, e aí então agravante complicadíssimo, que a gente fala que dele desde o primeiro vídeo desse canal, a medicina, a família, a religião, a sociedade em geral não nos ensinam sobre sexo. Não fala para gente como lidar com o sexo de uma maneira saudável, e aí a pornografia acaba, por causa disso, sendo a maior e, muitas vezes, a única fonte de informação sobre sexo para muitas pessoas, principalmente, as pessoas LGBT, porque, se já não se fala sobre sexo hétero, imagina sexo gay. (Sa João, 2018l, 7min03s–8min26s)

Essa suposta escassez se aproxima da concepção repressiva sobre a qual Foucault (1999) trabalhou analisando a sociedade ocidental a partir da Era Vitoriana inglesa. Naquele momento do século XVII, tinha-se uma hipótese de que sexo passou a ser algo oculto da sociedade. Contudo, conforme o filósofo explicou, sempre se falou sobre sexo (e muito). Houve uma proliferação dos discursos sobre os quais entendemos seu aspecto historicamente construído nas culturas mediante uma lógica de poder produtivo e disciplinar que investiu a sexualidade constantemente sobre indivíduos e sociedades. Para tanto, explorou-se a sexualidade por estratégias de saber-poder com vistas a buscar a “verdade” sobre o sexo contidas nos indivíduos (Foucault, 1999).

A lógica repressiva “repaginada” enunciada no Sem Capa, tida como uma das intenções para seu desenvolvimento, torna-se contraditória, sobretudo ao atentar para a plataforma de hospedagem, as produções midiáticas e estratégias que nos convocam a pensar sempre a sexualidade e o corpo. O Sem Capa pode ser lido como a encarnação do dispositivo da sexualidade (Foucault, 1980, 1999) à medida que constrói a narrativa convocando espectadores para refletirem sobre si, suas relações e seus corpos, questionando vivências, estimulando os corpos a buscarem mais prazeres e trazendo conhecimentos de ordem empírica ou científica na narrativa. Entre estratégias arregimentadas, há um aspecto do dispositivo presente no projeto: a “inovação” com a ausência do segredo sobre a sexualidade. Mostra-se, exibe-se e diz para desmistificar, evidenciar e explorar temáticas dos corpos e da sexualidade. Desde o título ao encerramento, esse propósito é frisado. Em entrevista ao canal Prudence, concedida um ano após o fim do projeto, Sa João reafirma essa ideia de desenvolver um projeto audiovisual, em que não seja necessário suavizar o que está sendo expresso ou recorrer a outras táticas para amenizar o tema. Assim, o Sem Capa se estabelece como uma “tecnologia do sexo” se armando audioverbovisualmente a partir de convocações a quem assiste, provocando autorreflexão e incentivando a procura pela liberdade sexual para homens gays.

Ainda no que concerne ao dispositivo da sexualidade (Foucault, 1999), nota-se a centralidade das instituições nas marcações sobre a sexualidade. Uma delas foi a medicina, que, por práticas de saber-poder, investiu patologias e regulações sobre indivíduos cujas ações não seriam (re)produtivas para a ordem capitalista. Entre os corpos conduzidos à marcação de doença e desvio estão indivíduos homossexuais, categoria criada na década de 1870 pelas ciências médicas para subjugar e criar uma figura patológica alvo de investidas disciplinares e corretivas (Spargo, 2019). Até 1975, a homossexualidade foi considerada doença em manuais psiquiátricos (Preciado, 2020) e, somente em 1990, a OMS retira da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). No Sem Capa, Sa João faz críticas para firmar o caráter problemático disseminado pela medicina à homossexualidade.

Assim, a medicina é assumida como uma instituição legítima cientificamente na validação de significados sobre saúde na sociedade, tendo seu legado atingido indivíduos e projetado sobre eles a aceitação institucional como “normal” ou “patológico”. Ramalho (2023) compreende, por meio de uma reflexão histórica sobre o modelo médico e a tentativa de normalização de gênero e sexualidade, que os dispositivos para normalizar os corpos se baseavam em uma lógica de essencializar e tentar conformar os sujeitos em determinadas categorias de gênero e sexualidade. Nas palavras do autor,

“[...] os vários dispositivos de normalização de corpos, identidades e comportamentos considerados ‘problemáticos’ acionados pelo ‘modelo médico’, a partir da sua visão essencialista sobre as diferenças físicas, biológicas e genéticas dos corpos, ajudaram à sua patologização, legitimando a sua inscrição nos compêndios médicos e prescrição de intervenções corretivas com o objetivo de os adequarem às normas binárias de gênero e sexuais” (Ramalho, 2023, p. 203).

É com essa configuração da medicina e dos marcadores que categorias como “travesti” e “transexual” são atravessadas por ações de resistência contra os estigmas e por discursos de resistência para romper com noções de desvio e doença, atribuídas pelas organizações médicas (Ramalho, 2023). Por outro lado, cabe também notar que, hoje, algumas alterações nos atendimentos propostos por profissionais da saúde têm sido dedicadas aos esforços no acolhimento de pessoas LGBTQIA+, tais como médicos reconhecidos midiaticamente, entre os quais destacamos o Doutor Maravilha (infectologista Vinícius Borges), cujo trabalho se direciona para a saúde, a inclusão e o acolhimento das populações LGBTQIA+, sem a tentativa de excluir indivíduos, prezando pelo cuidado e respeito.

Outro tópico do Sem Capa trata da intencionalidade em exprimir uma procura por romper com a heteronormatividade imposta socialmente para nos guiar. Vivemos em uma sociedade, na qual todas as práticas sexuais que fogem desse padrão sofrem represálias e violências. Existem regulamentos culturais e formas de poder engendradas em nossas apreensões e experiências de sexualidade (Oksala, 2011). Para tanto, a heterossexualidade precisa das “outras” sexualidades para se firmar como a norma legítima a ser seguida. Desse modo, classificações e marcações dos indivíduos são atribuídas pelos discursos das instituições como meio de arranjar e validar o que é proposto. São mecanismos estratégicos das configurações do dispositivo da sexualidade (Louro, 2019). Contudo, trata-se de um embate constante, em que “os discursos sobre sexualidade evidentemente continuam se modificando e se multiplicando. Outras respostas e resistências, novos tipos de intervenção social e política são inventados” (Louro, 2019, p. 40). Emergem outros discursos com buscas por consolidações nas interações sociais e com oposições na tentativa de operar outros arranjos para a sexualidade.

Os jogos de afirmar e refutar as normas sociais estão em permanente conflito. Tentamos, por vezes, perceber brechas e adentrá-las com intervenções e revoltadas frente aos binarismos. Nesse complexo caminho, o Sem Capa lança alternativas para homens gays refletirem sobre a homossexualidade, o corpo e as relações de outros modos. Incentivos e encorajamentos à “saída do armário” (Sa João, 2018h), por exemplo, são marcas que sublinham conflitos diante dos controles normativos e impulsionam a contraposição aos preconceitos. Outra ação possível de ser lida como uma tentativa de trazer novas formas de prazer para as relações sexuais é o incentivo ao uso do preservativo interno. Em tal caso, Sa João (Sa João, 2018f) explica as vantagens e demonstra como se usa o produto. Também o incitamento para que as pessoas frequentem festas de sexo ou procurem por relações coletivas de modo a, talvez, conseguirem explorar facetas das sexualidades ainda não experimentada (Sa João, 2018k). Da mesma forma que estimula outros prazeres, considerados fetichizados, como meio de exploração do corpo e dos desejos (Sa João, 2018g).

6. Conclusões

Neste artigo, apresentamos dois resultados por meio do tensionamento entre Sem Capa — projeto audiovisual para “descomplicar o sexo” em uma plataforma pornográfica — com repertório teórico-conceitual das pedagogias. Para tanto, ancoramo-nos em reflexões a partir da perspectiva queer, com a qual é possível estranhar regimes de regulação dos corpos dentro da cultura, já que, para uma norma se sustentar e fazer sentido na sociedade, ela precisa da reiteração pela linguagem (Butler, 2019). Com esse horizonte de estudos das pedagogizações, reconhecemos duas ações articuladas à narrativa como maneiras de ensinar, que, em conjunto, rearticulam-se à totalidade do projeto. Não se trata de um ponto em detrimento ao outro, mas em união nessa trama textual em tessitura.

Entrelaçada, a audioverbovisualidade revelou recorrências desde começos e términos semelhantes das gravações, corpos “fantasmagóricos” em cena e entrevistos na tela apenas pelo desempenho sexual, condução da narrativa inclinada à obtenção de intimidade com interlocutores até a frequência com que temáticas voltadas à saúde de homens gays, às relações sexuais entre homens, à anatomia dos órgãos tidos como sexuais e à tutorização dos cuidados com o corpo se apresentavam. Nessa amálgama, o jogo no campo do pornográfico feito pelo projeto mobilizou peças centrais que organizam a pornografia plataformizada (Vieira Filho, 2022).

Pelas lógicas plataformizadas, o ritual confessional adentra zonas mais profundas do que narrar sobre si publicamente por comentários, postagens e outros meios de dizer. Buscas por conteúdos realizadas pelos usuários estão incluídas nessa fusão de meios, de tal forma que desejos e consumos se tornam dados “confessados” na rede e mecanismos centrais da plataformização (Vieira Filho, 2022). Dispositivos algorítmicos não só assumem características da autoridade que “escuta” a confissão, mas sugerem aquilo que se ligaria aos gostos, vontades e sexualidades. A confissão e a confidência estabelecidas transbordam interlocutores e são constitutivas e constituintes das camadas das plataformas, em que os estímulos para se narrar constantemente congregam interesses e lógicas mercadológicas.

O dispositivo da sexualidade, como mecanismo discursivo de produção de sujeitos balizado por normas e em relações de poder (Foucault, 1999), está encarnado no Sem Capa. Uma das características é a pedagogização, central nessa narrativa, e notada em marcas explícitas cujo propósito é transitar entre aconselhamentos e instruções para relações sexuais. O Sem Capa visa ser resistência nas relações de poder estabelecidas na sociedade heterocentrada, porém a narrativa investe didaticamente outras normas sobre os espectadores, isto é, quer romper com a heteronormatividade, mas atualiza normas, além de agregar outras para ser um homem gay que se ajuste ao que é melhor para vivenciar a sexualidade e buscar melhor qualidade. A lógica imperativa dos tutoriais e aconselhamentos em tom de autoajuda configuram discursos normativos para ensinar uma gramática para a homossexualidade. Discursivamente, palavras sublinham esse conjunto prescritivo de ensinamento em vários episódios: “aula” e “aulinha”; “curso intensivo” e “intensivão”; construções verbais “eu vou ensinar” ou “você vai entender”. Tudo isso interage com a orientação pedagógica e instaura hierarquias entre alguém que supostamente sabe mais (Sa João) para quem sabe menos ou que pediu para aprender (espectadores).

Agradecimentos

Agradeço ao financiamento da bolsa de mestrado da Capes (PROEX – Programa de Excelência Acadêmica).

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Notas

[1] Visualizações correspondentes a 22 de fevereiro de 2023. Esse número pode aumentar ou diminuir, dependendo das interações dos usuários, bem como da disponibilidade dos vídeos na plataforma.
[2] O primeiro episódio foi duplicado para ter uma versão legendada, totalizando 25 vídeos. Contudo, no último episódio, Sa João afirma que a escolha por “24” episódios seria “por motivos óbvios”. Embora não explicitado, entendemos a referência pelas associações pejorativas do número a homens gays na cultura brasileira.
[3] A genealogia foucaultiana não examina o poder com foco único ou um grupo que atua dominando outros, mas um conjunto de estratégias intrincadas com linhas de força em permanentes tensões. O poder é móvel e múltiplo, vem de todas as partes. Nesse ínterim, discursos se entrelaçam ao complexo jogo do poder, sendo eles mecanismos e propósitos ou resistências e deteriorações do poder (Foucault, 1998).
[4] Dispositivo é o heterogêneo que se tece em rede para regular ações e corpos, como prisão, manicômio, aliança, etc., nas relações de saber-poder (Foucault, 1980).
Editoras: Marina Polo e Carla Martins
Nota adicional: Este artigo apresenta resultados da pesquisa de mestrado defendida pelo autor no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM/UFMG).

Autor notes

Maurício João Vieira Filho é Doutorando no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGCOM/UFJF). Atualmente, é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e, anteriormente, do Programa de Bolsas de Pós-graduação (PBPG/UFJF). É mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM/UFMG) e jornalista graduado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Desde 2019, é integrante do grupo de pesquisa DIZ: Discursos e Estéticas da Diferença. Suas pesquisas se voltam às discussões sobre gênero, sexualidade e corpos a partir do ponto de vista comunicacional. Também estuda as diferenças como forma de questionar marcadores sociais com base nos acionamentos teórico-políticos da teoria queer. Outros interesses de pesquisa são narrativas de vida, cultura pop e campo do pornográfico.


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